O Canto do Galo!
O texto bíblico tradicionalmente afirma
que foi o canto de uma ave. Porém estudos acerca deste tema dão conta de outras
indicações e interpretadões que nos parece serem verídicas. A expressão o
“canto do galo” é um assunto que encontramos nos quatro Evangelhos, Mateus,
Marcos, Lucas e João. A partir destes textos buscaremos o significado e a
natureza de tal expressão “ o canto do galo”.
Comecemos com os relatos do Evangelho
de Mateus 26,34: “Jesus declarou: Em
verdade te digo que esta noite, antes que o galo cante, me negarás três vezes!
(Evangelho de Mateus 26,34) Bíblia de Jerusalém.
Relatos do Evangelho de Marcos 14,30: “Disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que
hoje, esta noite, antes que o galo cante duas vezes, me negarás três
vezes” (Evangelho de Marcos 14,30) Bíblia de Jerusalém.
Relatos do Evangelho de Lucas 22,34: “Mas ele disse: Pedro eu te digo, (o) galo
não cantará hoje sem que por três vezes tenhas negado conhecer-me.”
(Evangelho de Lucas 22,34) Bíblia de Jerusalém.
Relatos do Evangelho de João 13,38: “Jesus lhe responde: Darás a tua vida por
mim? Em verdade, em verdade te digo: o galo não cantará sem que me renegues
três vezes.” (Evangelho de João 13,38) Bíblia de Jerusalém.
Neste estudo estaremos contextualizando
o assunto baseado em outros escritores e teólogos. Há tempos que é propagado e
muitas vezes de forma errada a história romana de que na época de Jesus o galo
que tanto se falava, era uma ave. O galo que se aduz nos evangelhos na verdade nunca
existiu, ou seja, pode ser até espantoso, mas o galo verdadeiramente, nunca
existiu. Analisando teologicamente a historia da igreja Cristã primitiva
e em profunda pesquisa acerca da História dos Romanos, aprendemos de que na
realidade o fato narrado biblicamente sobre o cantar do galo, não é bem assim
como conhecemos, pois as traduções bíblicas não nos ensinaram ou não traduziram
adequadamente do original para as demais traduções.
Durante séculos a posição que
prevaleceu na história foi a de que “O canto do galo”, referido por Jesus nos evangelhos,
era o canto de uma ave emplumada que cantava para anunciar a madrugada, ou as
horas da madrugada e nesse contexto, confirmaria a negativa de Pedro, de ter
negado a Jesus conforme havia previsto. Após pesquisar as obras de
William Berkeley, em seu livro “Marcado para morrer”, o autor aduz que na época
de Jesus havia uma regra, descrita na lei judaica, de que era proibido a
criação dessas aves na Cidade Santa, pelo simples fato de que delas emporcalhariam
e causariam transtornos nas coisas santas.
É importante salientar de que Jesus
passou por seis julgamentos: Três pelos judeus ou israelitas: O primeiro por
Anãs, o segundo por Caifás e o terceiro pelo Sinédrio.
Também há três julgamento pelos romanos:
O primeiro por Pôncio Pilatos, o segundo por Herodes e o terceiro novamente por
Pôncio Pilatos, pois de acordo por este, o Senhor Jesus, conforme narrativa do
Evangelho de Marcos, foi condenado e crucificado na terceira hora. Ainda, na
casa de Anás, Caifás e mesmo no Sinédrio, não havia um galinheiros e, portanto,
não tinha um galo sequer para cantar. Podemos então perguntar: Que galo, ou que
cantar de galo foi aquele?
Conta a história de que na terceira
vigília da noite, por volta das 03hs da manhã, momento em que ocorreu o
primeiro julgamento de Jesus, acontecia à troca de turno da escolta de soldados
dos romanos que faziam a guarda da fortaleza de Antônia. Esta fortaleza, era a
casa do governador Pôncio Pilatos. Essa troca de turno era anunciada com um
toque de trombeta, que em latim chamava-se gallicinium, que traduzido para o
português, significa “o canto do galo”.
Exemplo disso, sabemos que no Exercito
Brasileiro o amanhecer é anunciado com um toque de corneta que é conhecido como
toque da alvorada. Na época de Jesus, como mencionamos, a troca de turno era
anunciada com o gallicinium, conhecido como: alektoroplhonia, (o cantar do galo). E para melhor reforçar essa assertativa, queremos recorrer a
um costume judaico citado inclusive por Jesus, para denominar a terceira
vigília da noite, como “o canto do galo”, conforme esta no Evangelho de Marcos 13.35:
“Vigiai, pois, porque não sabeis quando
virá o senhor da casa, se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se
pela manhã”. Quando Jesus fez essa conotação expressiva sobre a vigilância,
estava relacionando acerca do vigia e do toque da trombeta pelo soldado, pois isso
era “o cantar do galo” naquele tempo, pois cada um dos toques, ocorria na
mudança dos turnos.
De acordo com a Enciclopédia da bíblia
que diz que “O cantar do galo”, era um nome dado à terceira vigília da noite, da
meia noite às três da manhã. No tempo de Cristo a noite era dividida pelos
romanos em quatro vigílias: A tarde; A meia noite; De madrugada e de manhã.
Cada um dos evangelistas se refere ao canto do galo em conexão com o
período em que Pedro
negou a Jesus, conforme as seguintes referencias bíblicas: Mt.26.34,74, Mc
13.35, Lc 22:34 Jo 13.38. Como podemos ver acerca do canto do galo, referido
por Jesus nos evangelhos, não se trata do canto de uma ave, mas sim o toque da
trombeta do soldado romano que anunciava a terceira vigília da noite, ou seja das
00h00minh até às 03h00minh da manhã.
Quando estudamos a passagem de Lc
22.21-34, nos defrontamos com a conhecida frase proferida por Jesus no verso
34: "Pedro, não ressoará hoje o galo até que três vezes me negarás
conhecer" (minha tradução). Tradicionalmente, esta referência
feita ao “canto do galo” sempre foi interpretada ao pé da letra, ou seja, um
galo, de fato, cantou no episódio da egação
de Pedro. Contudo, como iremos descobrir nas linhas que seguem, tal tradição
pode não refletir os fatos exatamente como aconteceram
.
Era o galo conhecido no Antigo
Testamento? Bem, de acordo com a Vulgata, o termo “gallus” aparece em Is 22.17,
Jó 38.36 e Pv 30.31. Em Is 22.17 o termo é a tradução de geber, que a
maioria das versões modernas interpreta como “homem”. Jó 38.36 traz o vocábulo sekwi,
cujo significado é completamente disputado. E Pv 33.31 tras zarzir, palavra
cujo significado é novamente disputado. Já a LXX traz nestes lugares
(respectivamente) andra, poikiltiken e alektor. Além disso, a Vulgata
de Tobias 8.11 traz circa pullorum cantum, literalmente “sobre o canto das
galinhas”, uma parte da noite, “canto do galo”.
Fitzmeyer ainda traz outro
interessante comentário sobre este assunto, dizendo: [...] de acordo com o Baba Qama 7.7
era proibido “criar galinhas em Jerusalém por causa das coisas santas”, e os
sacerdotes estavam proibidos de criá-las em todo lugar na terra de Israel.
[...] Ainda que o regulamento mishnaico não seja certamente válido antes do ano
70 em Jerusalém, a proibição pode ter tido força naquele tempo.
E o
erudito do Novo Testamento, William Barclay, também faz referência a esse canto
do galo, acrescentando, aliás, alguns dados inusitados, os quais transcrevemos
abaixo:
Pode bem ser que o canto do galo não
fosse o canto de uma ave; e desde o começo não pretende significar isso. Acima
de tudo, a casa do Sumo Sacerdote estava no centro de Jerusalém. E certamente
não haveria um galinheiro no centro da cidade. De fato, havia uma regra na lei
judia, segundo a qual era ilegal ter galos e galinhas na cidade santa, porque
eles sujavam as coisas santas. Mas o período das três da madrugada foi chamado
de canto do galo, e por essa razão. Naquela hora, a guarda romana era
trocada no castelo de Antônia, e o sinal da mudança da guarda era um toque
de trombeta. O termo latino para aquele toque de trombeta era gallicinium,
que significa canto do galo. É possível que assim que Pedro fez sua
terceira negativa, a trombeta da muralha do castelo ecoou sobre a adormecida
cidade... e Pedro lembrou: e por causa disso ele derramou o seu coração. (textos
baseados em pesquisas sobre autores e obras diversas).