Apascenta o meu rebanho, anima-o com o exemplo da tua fé. Chega-te mais a mim, e eu te mostrarei verdes pastagens e frescos regatos onde os conduzirás. Guarda-te na obediência, fica debaixo do meu sangue. Far-te-ei vencedor sobre todos os inimigos. Não andes apressadamente. Sê paciente, fortalece-te na fé, no amor, e serei contigo.
Eis que eu, o Senhor, assim o quero: que todos andem em obediência à tua voz, e crê que eu vou manifestar mais e mais o meu poder. Eis que venho breve!
Deus continuava a abençoar o trabalho, que pouco a pouco se estabilizava na cidade. Daniel Berg continuava empreendendo viagens pelo interior. Os riscos das viagens eram compensados pela aceitação da mensagem divina por pessoas sedentas de conhecerem a Deus. Enquanto isso, o Senhor o livrava de perigos e de doenças, entre as quais cólera e malária, além de outros inimigos naturais da região.
Mas a semente caiu em boa terra, vingou e cresceu. Da Rua Siqueira Mendes, a sede da igreja foi transferida para a Av. São Jerônimo, n° 224 (numeração antiga), para a casa pertencente ao irmão José Batista de Carvalho; lá permaneceu até oito de novembro de 1914, quando foi transferida para a Travessa Nove de Janeiro, n° 75 (numeração antiga). Havia, porém, pontos de pregação nas vilas Coroa e Guarany.
Primeiros obreiros. O irmão Gunnar Vingren, apesar de a igreja estar ainda em sua fase inicial, já se preocupava com o trabalho evangelístico e missionário. Ele procurou despertar esse espírito entre os brasileiros salvos por Jesus Cristo. Como resultado, dentro de pouco tempo surgiram obreiros vocacionados para um trabalho de âmbito nacional, tais como: Isidoro Filho (1912) e Absalão Piano (1913), os primeiros pastores pentecostais consagrados no Brasil; além de Pedro Trajano (1914), Crispiniano Melo (1915) e Adriano Nobre (1915).
Ainda em 1913, o irmão José Plácido da Costa foi designado como missionário e foi o primeiro desta igreja a levar as boas novas ao povo português.
Gunnar Vingren e Daniel Berg tiveram como auxiliares na igreja, os seguintes irmãos: Pedro Trajano Pinheiro (1915-1917); Adriano Nobre (1916-1917); Almeida Sobrinho (1916-1924); Samuel Nyström (1917-1924); Bruno Skolimowsk (1922-1924); Nels Nelson (1921-1924).
Uso da imprensa. Em 1° de novembro de 1917, foi publicado, em Belém do Pará, o primeiro jornal pentecostal no Brasil. Sob o título Voz da Verdade, ficou sob a responsabilidade dos pastores Almeida Sobrinho e João Trigueiro. Foram impressos dois números. O jornal tinha a sua sede na rua Demétrio Ribeiro, n° 8-C. Esse jornal deixou de circular no mês de janeiro de 1918.
Em 1917, nos porões do primeiro templo da Igreja em Belém e no Brasil (na Trav. Nove de Janeiro, n° 75), foi criado um serviço de tipografia que começou a editar o jornal Boa Semente – e outras publicações, tais como calendários, hinários, estudos para Escola Bíblicas, revistas da Escola Dominical. A princípio, o jornal foi distribuído gratuitamente, mas depois passou a ser vendido.
Gunnar Vingren era o diretor, tendo como colaboradores os irmãos Samuel Nyström e, depois, Nels Julius Nelson. Lançado em 1919, este jornal circulou até 1930, funcionando como o órgão oficial de comunicação da Assembleia de Deus no Brasil, quando foi substituído pela publicação do Mensageiro da Paz, que permanece até hoje.
Em 1925, Samuel Nyström, sentindo a necessidade de um auxiliar na redação do jornal Boa Semente, trouxe Plácido Aristóteles Tavares do Canto, que há tempo conhecera em Recife, para ajudá-lo, posto que era um homem de reconhecida capacidade literária e cujo testemunho era positivo e profícuo no trabalho do Senhor.
Transcrevemos, a título de curiosidade, fragmentos do primeiro número do jornal Boa Semente:
A Igreja Pentecostal no Brasil, sentindo há tempo a necessidade de uma publicação de sua fé, na qual melhor se pudesse conhecer os escritos da Bíblia Sagrada, vem, hoje, preencher esta necessidade, com o presente jornal. Tal é o motivo que traz à luz o Boa Semente.
E mais abaixo:
A nossa atitude, pois, para com todos os crentes de qualquer denominação, é esta: não queremos desunião, nem discussão. Queremos, é certo, falar a verdade do Senhor. Queremos, sim, anunciar todo o conselho de Deus.
Onze anos depois, o jornal Mensageiro da Paz publicou, sem muitos aparatos, o seguinte:
Conforme determinou a Convenção em Natal, o “Mensageiro da Paz” veio substituir os periódicos “Som Alegre” e “Boa Semente”, que se fundiram em um só jornal, que passará a ser o Órgão das Assembleias de Deus no Brasil.[1]
Em 1920, o irmão Gunnar Vingren viajou pelo País, visitando e confirmando os trabalhos organizados. Em 1921, por motivo de doença, viajou para a Suécia, onde fez conhecida de todos a obra que Deus estava fazendo no Brasil, despertando assim mais o zelo missionário dos seus patrícios. Com isto, muitos jovens deixaram o conforto da sua pátria e vieram para o Brasil, entre eles Samuel Nyström, que depois veio a substituir Gunnar Vingren no pastorado da Igreja em Belém.
Em 1921, foi realizada a primeira Convenção Paraense, tendo como sede a cidade de São Luís, Município de Igarapé-açu, na Estrada de Ferro de Bragança. Em Belém, no período de 18 a 22 de agosto de 1921, teve lugar a primeira Escola Bíblica, que congregou um bom número de obreiros, os quais se reuniram para melhor se prepararem para o serviço de Deus, tendo grande atuação na ministração de estudos bíblicos o irmão Samuel Nyström.
Quando auxiliava Gunnar Vingren na Igreja em Belém, Samuel Nyström foi enviado para Manaus, onde fundou a Assembleia de Deus no Amazonas, em 1º de janeiro de 1918. Ele abriu trabalho também em Rio Branco (AC), retornando a Belém em 1922.
MANOEL MARIA RODRIGUES
Pela importância de sua participação no nascimento da Assembleia de Deus e pelo trabalho que realizou ao longo do tempo, merece destaque o irmão Manoel Maria Rodrigues.
Nascido em 22 de dezembro de 1893 na pequena Vila de Esgueira, distrito de Aveiro, Portugal, Manoel Rodrigues era filho de Júlio Maria Rodrigues e Luzia Gonçalves de Jesus. Bem jovem ainda e recém casado com uma moça espanhola de nome Jezusa Dias, imigrou para o Brasil, fixando residência em Belém do Pará.
Em Belém, entrou em contato com o evangelho e decidiu entregar-se a Cristo, sendo batizado em águas pelo pastor Almeida Sobrinho, na Primeira Igreja Batista de Belém, em 09 de maio de 1909. Muito estudioso da Bíblia e dedicado à fé que abraçara, veio a ser consagrado diácono daquela igreja, cargo que exercia com eficiência e piedade cristã.
Nesta condição ele estava quando, em 1910, chegaram ao Brasil os missionários Daniel Berg e Gunnar Vingren. Verdadeiro investigador da verdade, Manoel Rodrigues e sua esposa Jezusa Dias vieram a ser contados entre os que foram desligados da Igreja Batista e fundaram a Assembleia de Deus.
O Mensageiro da Paz, na reportagem que noticiou o seu falecimento, descreveu:
Diga-se, a bem da verdade, que o irmão Manoel Rodrigues chegou até a ser esbofeteado no rosto... pelo crime de manter a sua liberdade de crer em Jesus conforme a sua consciência... mas nada o abalou; permaneceu firme confessando que Jesus batiza atualmente aquele que crê no batismo com o Espírito Santo, e por este motivo foi excluído.
Ainda no nascedouro da igreja, foi separado como presbítero, o primeiro a ser consagrado.
Em 1914, zeloso de seus deveres filiais, Manoel Rodrigues resolveu regressar a Portugal, a fim de levar a mensagem do evangelho a seus velhos pais e irmãos que ali deixara. Deus o abençoou grandemente em Portugal, onde também foi um dos pioneiros da obra pentecostal. Entre aqueles que ali ganhou para Jesus, se destacou como verdadeiro valor espiritual e evangelístico o pastor Rogério Ramos Pereira.
De Portugal, Manoel Rodrigues foi para a Argentina, a fim de encontrar alguns parentes e amigos, a quem se sentia no dever de evangelizá-los. Assim, mais um trabalho pioneiro lhe foi confiado por Deus, pois na sua residência em Buenos Aires foi que nasceu a Assembleia de Deus da Argentina. Depois disso, ele voltou para Belém.
Tendo completado a sua missão na terra, o Senhor Jesus o chamou ao descanso eterno quando se passavam quinze minutos das 14h do dia 19 de maio de 1969, onde agora está aguardando a coroa da justiça, que lhe será dada pelo Justo Juiz.
Bibliografia: